Como executar um pouso perfeito?

O pouso é uma das fases mais críticas durante um voo. É a segunda coisa que os pilotos aprendem em treinamento após controles básicos de voo e técnicas de recuperação. Eu adoraria poder descrever como fazer um pouso perfeito, mas a verdade é que um pouso “perfeito”, ao contrário de um pouso bom e seguro, provavelmente não existe. Ou é pelo menos 99% de sorte. O que eu posso descrever são 5 elementos principais que fazem um pouso bom e, portanto, seguro.

Landing St. Maarten

1. Um pouso suave pode não ser, necessariamente, um bom pouso

Uma das maiores falácias da aviação é que um pouso suave é bom. Isso nem sempre é verdade. Embora isso torne o passeio mais confortável para os nossos passageiros, a menos que as condições sejam perfeitas e a pista é longa, uma aterrissagem suave pode ser algo ruim. O melhor cenário é logo na primeira oportunidade, em que temos de despejar toda a energia cinética para manter a aeronave estável no chão.

Se o toque da aeronave na pista for muito suave, o avião ainda está meio que voando, o que significa que ainda precisa ser controlado cuidadosamente, levando mais tempo para dispersar a energia restante por meio da frenagem em um comprimento limitado de pista. Também é melhor para o trem de pouso, uma vez que um pouso suave removerá o ponto de contato inicial dos pneus ao longo da pista, antes que a fricção gire as rodas na mesma velocidade da aeronave.

landing cross wind

2. Pistas molhadas necessitam de um pouso positivo

Mais uma vez, a menos seja muito longa, uma pista de aterrissagem molhada merece um pouso “positivo”. Isso significa que o piloto se esforçará para fazer um toque firme na pista. É porque, na nossa velocidade de aterrissagem (entre 220 a 280 km/h), a água da pista não consegue se dispersar por baixo dos pneus em um pouso suave, e o trem de pouso vai patinar na superfície da água, em um fenômeno conhecido como aquaplanagem, o mesmo que acontece com os carros nas ruas em dias de chuva.

Um pouso firme garante que as rodas, sob a força do toque na pista, atravessem esta camada de água e façam contato com a pista, que é muito menos escorregadia.

landing wet runway

3. O pouso não termina até que você tenha reduzido o avião à velocidade de taxiamento

Alguns de vocês podem ter experimentado um voo em que no momento em que o avião toca a pista, as pessoas começam a aplaudir. Mas, por incrível que pareça, esse não é o fim do pouso. Embora seja muito raro que algo dê errado naquele ponto, o avião ainda está viajando em grande velocidade e, portanto, ainda é um pouco instável. Qualquer rajada repentina de vento, por exemplo, pode causar mudanças bruscas. É por isso que, quando o avião pousa, o piloto ainda utiliza os controles de voo para manter a aeronave centralizada e colada na pista até estar em uma velocidade bem mais reduzida.

landing aircraft

4. O freio do trem de pouso é a forma mais eficaz de reduzir a velocidade do avião durante o pouso

Muita coisa acontece logo após o pouso. Os flaps são abertos nas asas para atuar como “quebra vento”, os pilotos encaixam o “impulso inverso” do motor os pilotos engatam o impulso reverso do motor (desviando o ar que passa pela turbina, fazendo com que ele saia pelos painéis que se abrem ao longo dela) e, uma vez que o a roda do nariz do avião está no chão, você sentirá que os pilotos usam os freios da roda principal.

Dos três, são os freios que fazem a maior diferença na desaceleração da aeronave. O impulso reverso do motor e os flaps são úteis nos primeiros segundos da aterrissagem antes da parte da frente da aeronave tocar o chão, já que eles usam a força da corrente de ar que se forma por conta da alta velocidade. Mas depois que o avião fica mais lento na pista, eles rapidamente se tornam menos efetivos. Então, depois que a parte da frente toca o solo, o maior trabalho é do trem de pouso principal.

landing at night

5. Pouso em piloto automático ainda precisa de um ser humano

Um dos meus mitos favoritos é que os pilotos são preguiçosos e usam o piloto automático o tempo todo, mesmo durante o pouso e aterrisagem. Isso está longe da verdade, já que, embora as aeronaves possam pousar automaticamente, é destinada a ser usada em condições de má visibilidade (como em nevoeiro e névoa). Na verdade, as limitações do vento no pouso são drasticamente reduzidas com uma aterrissagem automática, então, temos sorte que é muito raro estar nublado e com ventanias ao mesmo tempo.

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Isso se dá por que o piloto automático utiliza algoritmos de controle com base em informações de rádios de navegação em terra e nos sensores de ar no avião. Não existe um sistema incorporado que seja capaz de prever ou antecipar eventos. O piloto automático não pode esperar que o avião desça um pouco mais, ou preveja uma rajada de vento enquanto corre para a pista. Por esse motivo, mesmo quando pousando no piloto automático, um dos pilotos ainda estará segurando os controles no caso de fazer algo indesejável, garantindo que o pouso seja concluído com segurança. E a maioria dos outros pousos quase sempre são feitos manualmente por um dos dois pilotos.

Há muitas outras coisas que entram em jogo ao pousar uma aeronave. É justo dizer que a lista é muito maior. Estes cinco tendem a ser as maiores perguntas que os meus colegas pilotos e eu recebemos das pessoas sobre voar. Espero ter esclarecido quaisquer dúvidas, e talvez a próxima vez que voe KLM para algum lugar com uma pista curta, você não se sentirá tão mal por um pouso não ser completamente imperceptível.

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